Livro: A Mão Esquerda da Escuridão

Nos últimos anos o assunto de identidade de gênero veio à tona e eu precisei estudar bastante sobre antes de conseguir compreender a biologia, construção social e psicologia individual por trás dessas observações sobre a possibilidade de variação genética incompatível com a construção social sobre papéis Femininos e Masculinos.

Na jornada de compreensão, encontrei a Ursula K. Le Guin (1929-2018) escritora de ficcção científica especulativa. Ela tem mais de 120 obras contando com 33 prêmios variados e 5 best sellers (Espero que já tenha ouviu falar da série Contos de Terramar que foi adaptado pelo Goro Miazaki, filho de Hayao Miazaki).

“A Mão Esquerda da Escuridão”, é uma obra inovadora de ficção científica que explora os aspectos psicológicos de gênero e identidade. Publicado em 1969, o livro se passa no planeta Gethen, onde os habitantes são geneticamente andróginos e não possuem um gênero fixo, sua mudança de gênero depende de um sentimento interno que aciona os hormônios certos para a expressão do õrgão sexual masculino ou feminino. Ah, e todo mundo tem a capacidade de engravidar.

O personagem principal, Genly Ai, é um enviado do Ekumen, uma federação de planetas. Ele tem a tarefa de convencer os habitantes de Gethen a se juntarem à federação. No entanto, ele rapidamente percebe que sua missão não será fácil, já que a natureza andrógina dos gethenianos desafia suas próprias concepções sobre gênero e identidade.

Um dos principais aspectos psicológicos explorados é o conceito de “outro”. Os gethenianos são diferentes de Genly Ai, e ele luta para entender seus modos de pensar e viver. Especialmente quando se trata de sua identidade de gênero. Genly Ai está acostumado a uma sociedade em que o gênero é binário, e ele acha difícil se relacionar com uma sociedade em que o gênero é fluido.

Estamos falando sobre um livro publicado em em 1969, o termo “Transexualidade” foi cunhado em 1952 no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Ursula tinha 23 anos.) e permaneceu lá em essência até 2013.

Por meio de suas interações com os gethenianos, Genly Ai aprende a apreciar a beleza da diferença e a abraçar o desconhecido. Essa é uma lição tão relevante hoje quanto era quando o livro foi publicado pela primeira vez. Em um mundo onde somos constantemente bombardeados com mensagens sobre o que é “normal” e o que não é, e somos recompensados por algortimos com bias.

É uma obra inovadora de ficção científica que explora uma série de aspectos psicológicos relacionados a gênero, identidade, alteridade, poder e controle. No momento, o assunto relevante para conversarmos sobre e gerarmos memória afetiva sobre o que significa empatia pelo Outro.

Não reproduzir concepções preconcebidas é abraçar a beleza da diferença.

É uma obra atemporal que continua a inspirar e provocar o pensamento. Ainda tenho perguntas! A identidade à qual estamos acostumados, é algo inato ou se é algo socialmente construído?

Comente sobre um livro que abriu sua mente para seu preconceito 🙂